Tem
um gato em casa? Já ouviu certamente falar da toxoplasmose e dos perigos que
esta doença representa para mulheres durante a gravidez, nomeadamente o risco
que comporta de provocar danos cerebrais no feto.
(via Wikipedia) |
Em
adultos saudáveis, o sistema imunitário é normalmente suficiente para conter a
ameaça e depois de alguns breves sintomas semelhantes aos de uma vulgar gripe,
os parasitas ficariam dormentes e inofensivos no nosso organismo.
Tem
sido essa, pelo menos, a convicção da comunidade científica até aqui.
O
que a The Atlantic, num artigo de Kathleen Mcauliffe, nos relata aqui é a possibilidade espantosa, ainda que
assustadora, dos pequenos microorganismos protozoários associados à
toxoplasmose, os Toxoplasma gondii, serem, na realidade, parasitas com
capacidade de, interferindo nas ligações entre os nossos neurónios, controlar o
cérebro humano, afectando as nossas reacções, induzindo comportamentos
auto-destrutivos (inclusive o suicídio), aumentando o risco de acidentes
automóveis e podendo estar na origem de casos de demência e esquizofrenia.
No
ciclo de vida do parasita Toxoplasma, a reprodução só ocorre no interior do
organismo de roedores. Como tal, para depois chegar aos gatos, de onde são
expelidos pelas fezes permitindo que o ciclo se reinicie, é essencial que estes
felinos ingiram ratos infectados.
O
que as pesquisas demonstraram é que os roedores infectados têm, em regra, menor
preocupação com predadores em espaços abertos e são mais activos fisicamente, o
que os torna também mais vulneráveis, considerando que os gatos são atraídos
por objectos em movimento rápido.
(via Wikipedia) |
No
meio desta teia de relações, os humanos são tidos como portadores involuntários,
uma vez que chegados ao organismo do homem acaba por ser forçado a interromper
o seu ciclo de vida.
Todavia,
considerando que partilhamos uma grande maioria dos genes dos ratos, não é
disparatado considerar que o Toxoplasma nos pode “confundir”.
A
grande questão que se colocou a Jaroslav Flegr, um biólogo da Universidade de
Praga, o cientista que primeiro lançou esta hipótese, era a de saber se também
seríamos vulneráveis à manipulação cerebral.
Por
incrível que parece, e o artigo da The Atlantic é bastante exaustivo a enumerá-los,
diversos estudos parecem sugerir que as coisas se passam efectivamente assim.
Confirmando relação entre aumento dos suicídios, sinistros rodoviários,
demência e esquizofrenia e a presença do parasita nas populações estudadas.
Por
outro lado, e no que concerne à relação entre o Toxoplasma e a esquizofrenia, o
psiquiatra E. Fuller Torrey lembra que embora se tenha dito que a esquizofrenia
sempre esteve presente nas sociedades humanas, na verdade a literatura
epidemiológica contradiz esta afirmação. A notoriedade desta condição só surge
na segunda metade do século XVIII, coincidindo com o momento em que tanto em
Londres como Paris se começaram a adoptar gatos como animais domésticos.
Torrey
e o colega Robert Yolken, neurologista na Johns Hopkins University, descobriram
que a prevalência da doença é 2 ou 3 vezes mais comum em pessoas que são
portadoras do parasite do que em indivíduos da mesma região utilizados como
controles experimentais.
As
boas notícias, segundo o artigo citado, são que se o seu gato só viver em casa, então não representa perigo,
porque não tendo contacto com ratos, o Toxoplasma não o irá infectar. Mas mesmo
que frequentem os espaços livres, os gatos só expelem o parasita por um período
de três semanas na sua vida, tipicamente quando são jovens e começam a caçar.
Nessa fase, bons cuidados de higiene (mesas e bancas de cozinha limpas,
contacto limitado com o gato e manutenção da caixa de areia) devem ser
suficientes para que o perigo de infecção seja quase removido.
Igualmente fascinantes (ainda que assustadoras) são as hipóteses que o artigo lança
relativamente ao “controlo” cerebral por parte de microorganismos, lembrando o
aumento dos impulsos sexuais que se registam antes de um episódio de herpes ou
nos estados avançados da sífilis, como se os parasitas fizessem um esforço para
forçarem os seus hospedeiros a colaborarem na sua disseminação.
A
natureza, mesmo quando assusta, não deixa de fascinar.
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