Explorando a temática de um post anterior, e a
título de curiosidade, na Atlantic pode encontrar um artigo sobre os sistemas
de valores que estão subjacentes à clivagem política entre Direita e Esquerda
(ou, na terminologia inerente à realidade política dos E.U.A., entre Conservadores
e Liberais).
Sustenta o autor, Thomas Byrne Edsall, que, em
regra, a identificação política de cada um de nós traduz a adesão a um conjunto
de valores que se reflecte em todos os aspectos da nossa existência social e
cívica.
Assim, as diferenças de opinião no debate político
muitas vezes traduzem clivagens bem mais profundas na forma de estar e de ver o
mundo, o que ajuda a explicar o tom radical que frequentemente permeia o
discurso político e a cegueira que ocasionalmente é demonstrada por ambos os
lados da barricada face a argumentos válidos produzidos pelos antagonistas.
As pesquisas no campo da psicologia política
também tendem a sustentar que as ideologias mais conservadoras (i.e. de
Direita) tendem a ser referidas com expressões que habitualmente associamos à
masculinidade (força, frieza, austeridade, combatividade, adesão às hierarquias)
e mais liberais (i.e. à Esquerda) surgem associadas a aspectos que
culturalmente enquadramos na feminilidade (compromisso, tolerância, equilíbrio,
sensibilidade e individualismo).
Um estudo de Dana Carney da Columbia University, John Jost da New York
University, Samuel Gosling da University of Texas, e Jeff Potter da Atof, Inc.,
no seu trabalho de 2008, "The Secret Lives of Liberals and Conservatives:Personality Profiles, Interaction Styles, and the Things They Leave Behind" teorizaram que há certos traços de personalidade associados a orientações
liberais ou de Esquerda e outros associados a orientações conservadoras ou de
Direita.
Aqui ficam,
então, essas marcas "políticas":
Liberais/Esquerda
Desaprumados, ambíguos, indiferentes, excêntricos,
sensíveis, individualistas; abertos, tolerantes, flexíveis; amantes da vida, livres,
imprevisíveis; creativos, imaginativos, curiosos; expressivos, entusiásticos; excitáveis,
buscando sensações; desejosos da novidade, diversidade; descontrolados, impulsivos;
complexos, com “nuances”; mentes abertas; abertos a experiências.
Conservadores/Direita
Livres de ambiguidade no pensamento, persistentes,
tenazes; duros, masculinos, firmes; fiáveis, confiáveis, com fé, leais; estáveis,
consistentes; rígidos, intolerantes; convencionais, vulgares; obedientes, conformistas;
temerosos, ameaçados; xenófobos, preconceituosos; ordenados, organizados;
poupados, relutantes em gastar ou dar; estéreis; obstinados, teimosos; agressivos,
zangados, vingativos; cuidadosos, práticos, metódicos; reservados, contidos; severos,
frios, mecânicos; ansiosos, desconfiados, obsessivos; auto-controlados; contidos,
inibidos; preocupados com as regras, normas; moralistas; simples, decididos; de
mentes fechadas; conscienciosos.
A equipa de Carney descreve o conservadorismo como
uma crença ideological que está significativamente (mas não inteiramente)
relacionada com preocupações motivacionais que se relacionam com a gestão
psicológica da incerteza e do medo. Como tal, preocupações com o medo e a “ameaça”
podem também explicar o segundo núcleo do conservadorismo, o patrocínio da
desigualdade.
Aqui, importa lembrar o post anterior sobre as possíveis origens do pensamento racista e xenófobo e da sua relação com os medos que nos assolam no confronto com a "diferença".
Um aspecto que a leitura deste artigo não foca,
mas que me interessa diz respeito à ocasional desconformidade entre os sistemas
de valores que na realidade orientam determinadas pessoas na condução das suas
vidas privadas e depois as suas escolhas e alianças políticas.
Com efeito, é frequente deparar-me com pessoas que se
afirmam de Direita, mas que, na realidade, professam um estilo de vida e todo
um conjunto de valores que não encontra tradução nas orientações políticas dos
partidos dessa linha ideológica.
Por outro lado, também é frequente ver ligados a partidos
e facções de Esquerda, pessoas que, na prática, têm uma atitude extraordinariamente
conservadora perante a vida.
Em muitos casos, a sensação empírica é a de que os
partidos e a predisposição política, para muitos de nós, assume um carácter
quase clubístico, definindo-se mais em função do nosso círculo de amizades e relacionamentos
e da nossa tendência inata para nos “integrarmos” do que propriamente na
sequência de decisões racionais e ponderadas.
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