13 de fevereiro de 2012

Uma explicação “genética” alternativa para as desigualdades económicas inerentes às sociedades humanas

Na sequência de um post anterior sobre o tema das desigualdades sociais e possíveis explicações "genéticas", aqui fica a prometida teoria alternativa.


Todos os anos é proposta aos diversos colaboradores da Edge, alguns dos mais brilhantes pensadores da actualidade, uma única questão de natureza geral (no passado, o mote para a reflexão foram questões como "o que mudará tudo?" ou "de que forma a internet está a mudar a forma como pensamos?"), sendo depois os vários contributos coligidos e disponibilizados publicamente.

Para 2012, a Edge pedia aos seus colaboradores que indicassem qual seria a sua “explicação profunda, inteligente e elegante favorita”.

Steven Pinker, num curto ensaio de resposta, referiu-se à possibilidade da genética evolucionária explicar os conflitos inerentes à vida social humana.
(via New York Times)
Sendo a vida complexa o produto da selecção natural, impulsionada pela competição entre semelhantes, os vencedores serão aqueles que melhor mobilizarem a energia e os materiais necessários para se copiarem e depois, numa segunda fase do processo, melhor mobilizarem novamente as suas energias e materiais para ajudarem a que as suas cópias se copiem também.

Assim, a selecção natural favorece a alocação de recursos à descendência e, num segundo plano, àqueles que nos são próximos, numa esfera de influência que se vai expandindo desde a família alargada até às demais células sociais com que nos identificamos (aldeia, região, país, continente, etc.) na exacta proporção em que diminui o incentivo a esse esforço de partilha dos nossos recursos.

Este impulso para transmitir os genes através das gerações explica muitos dos factos da nossa vida social enquanto espécie.

Considerando a finitude dos recursos disponíveis, torna-se, desde logo, evidente que o conflito é inerente à condição humana, como a história , agora sim sem margem para refutação, nos demonstrou.

Será, então, na família (um conjunto de indivíduos com um interesse evolucionário comum na prosperidade mútua) que se encontrará o principal refúgio do conflito. 

Assim se explica que os líderes procurem tradicionalmente transferir o poder para a sua descendência (poder político, mas também poder económico) e que as grandes doações de riquezas ocorram habitualmente no seio da família (tendo o fenómeno sucessório como paradigma máximo).

É neste ponto que, parece-me a mim, podemos encontrar a melhor explicação “genética” para o agravamento do fosso entre ricos e pobres a que o avançar dos tempos conduz.

De facto, a nossa tendência inata para proteger a nossa descendência explica em grande parte as desigualdades sociais que o decorrer do tempo e a sucessão de gerações vão tornando mais evidentes.

Assim, se considerarmos que no nosso desenvolvimento, regra geral, todos beneficiamos das condições criadas pelos nossos pais, é óbvio que aqueles cujos progenitores conseguirem transmitir melhores recursos irão beneficiar de vantagens competitivas que depois, fazendo uso do seu potencial próprio, poderão utilizar como alavanca para uma mais pronunciada progressão profissional.

Essa mais pronunciada progressão, ao contrário do que é sugerido no artigo que comecei por citar no post anterior, não tem necessariamente de resultar de superiores capacidades cognitivas, mas sim, em muitos casos,  de simplesmente se ter partido de uma posição diferente em relação aos demais competidores.

A explicação para a desigualdade pode estar, de facto, nos genes… 

Relacionado com o tema, vale a pena ler o artigo de Pinker no New York Times, "My Genome, My Self".

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