(via New Yorker) |
Aqui
fica, no entanto, uma breve sinopse, com algumas das ideias chave.
A
ideia de desenvolver pensamentos e ideias em grupo tem uma longa história, mas
recebeu um impulso inovador em 1948, quando um publicitário americano, Alex Osborn, lançou um livro intitulado “Your Creative Power”, no qual se propunha
revelar os seus segredos criativos.
Desse
livro, o “segredo” que se viria a revelar fecundo foi a descrição do processo
de brainstorming, que, desde então, tem vindo a ser utilizado em diversas áreas
da actividade humana.
O
princípio é simples. Um grupo deve reunir-se e lançar ideias sobre o tema em
discussão, sem se preocupar com a qualidade, mas sim apostados em gerar quantidade,
muitas vezes através de uma livre associação de ideias. Entra também na equação
uma outra regra, que é decisiva: não pode existir qualquer espécie de
criticismo ou negatividade nas reacções.
O
propósito desta metodologia é impedir que as inibições naturais decorrentes do
potencial de receber uma crítica sufoquem boas ideias logo à nascença.
O
brainstorming foi um sucesso e entrou na cultura empresarial e popular das
sociedades ocidentais.
Só
existe um problema. De acordo com os estudos efectuados sobre o assunto, o
método brainstorming simplesmente não é eficaz.
Quantidade de ideias?
Desde
o primeiro teste sério efectuado em Yale, em 1958, já se efectuaram dezenas de
estudos e todos apontam para as mesmas conclusões.
Na
realidade, sessões de brainstorming produzem menos ideias do que se o mesmo
grupo de pessoas trabalhar individualmente e depois reunirem as ideias numa
reunião subsequente.
Ou
seja, o processo brainstorming, ao contrário do que intuitivamente esperamos, não gera uma maior quantidade de ideias do que o trabalho individual.
Mas,
e quanto à qualidade?
Osborn
estava certo que processos de grupo são hoje incontornáveis.
Na
ciência, os trabalhos individuais são incrivelmente menos bem sucedidos do que
os esforços colectivos, levando muitos a considerarem que os avanços efectuados
conduziram a problemas de tal forma complexos que uma só pessoa não pode
simplesmente abarcá-los. Os investigadores são forçados a especializarem-se e a
colaborarem, uma vez que os avanços se dão nas intersecções dos seus saberes.
Mas
se as sessões brainstorming não correspondem ao método mais eficiente para mobilizar
o potencial de um grupo, qual é, afinal, o modelo correcto?
Charlan Nemeth, da Universidade da Califórnia, em 2003, parece ter demonstrado que os
grupos que interagem num cenário de debate são os mais produtivos, gerando mais e
melhores ideias.
De
alguma forma, a crítica (e a antecipação da crítica) força-nos a raciocínios
diferentes e mais cuidados. Por outro lado, o simples facto de sermos nós
também forçados a analisar criticamente as opiniões dos outros, potencia a
produção de ideias próprias mais originais e sólidas, acolhendo já contributos,
muitas vezes indirectos, dos outros.
Também
a exposição a perspectivas diferentes gera criatividade.
Na
realidade, a associação livre de ideias não gera, em regra, ideias criativas.
Se alguém disser “azul”, a maioria das pessoas vai pensar em “verde”, “mar” ou “céu”.
Se alguém disser “verde”, a maioria das pessoas diz “relva”.
Para
gerar criatividade, Nemeth conduziu experiências em que algumas pessoas foram
expostas a descrições erradas das cores. Ou seja, um assistente de Nemeth,
vendo um painel azul, dizia, em vez disso, outra coisa qualquer. De imediato,
em vez de associações óbvias a “céu” ou “mar”, o azul desencadeou respostas
como “jazz” ou “tarde de mirtilos”.
Assim,
a exposição a pontos de vista diferentes (condições de debate), mesmo que
errados (como, por exemplo, neste exemplo da experiência realizada com as
cores), abre-nos caminho à criatividade.
E
qual a composição ideal de um grupo de trabalho?
De
acordo com investigações citadas pelo artigo de Jonah Lehrer, um grupo de
trabalho atinge o seu máximo potencial quando mistura um núcleo de pessoas que
se conhecem bem com membros exteriores, que conseguem infundir “novidade” nessa
estrutura bem oleada.
Se
todos nos grupo se conhecerem bem, a tendência será para que caiam nas
respectivas áreas de conforto.
Se
ninguém se conhecer, todos vão sentir dificuldade em desenvolver as ideias.
E
qual a proximidade física que deve existir entre pessoas que trabalham para um
mesmo objectivo?
Uma
equipa da Harvard Medical School determinou, comparando milhares de trabalhos
face ao seu impacto na comunidade científica e relacionando a proximidade
física dos respectivos autores, que a qualidade aumenta com a proximidade no
local de trabalho.
Os
trabalhos mais citados foram produzidos por pessoas que trabalhavam a algumas dezenas
de metros uns dos outros.
O
número de citações diminui à medida que a distância entre os colaboradores
aumenta.
Não
obstante os avanços tecnológicos e comunicacionais, o grau de criatividade e qualidade
do trabalho de grupo é potenciado pelas frequentes e espontâneas interacções
físicas entre os colaboradores.
(via Wired) |
Nesse
sentido, Lehrer cita o exemplo de Steve Jobs que instalou a sede da Pixar em
redor de um átrio central, onde se encontravam as casas-de-banho, os cacifos
postais, salas de reuniões e a cafetaria, forçando os vários colaboradores da
empresa (animadores, guionistas, desenhadores, etc.) a encontrarem-se várias
vezes ao longo do dia.
Dessa forma, Jobs pretendia potenciar a magia que muitas
vezes surge dessas interacções espontâneas entre pessoas que trabalham para um
mesmo objectivo, ainda que muitas vezes focadas nas suas áreas específicas de
actuação.
A
última parte do artigo de Lehrer é talvez a mais fascinante, fazendo alusão ao
Building 20, do MIT. Merece realmente uma leitura atenta.
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